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Empresas offshore: entenda o que são e como funcionam

Atualizado em 1 de outubro de 24 | Geral  por

Bárbara Guido.
Bárbara Guido

Uma empresa offshore.

As empresas offshore estavam no centro das discussões políticas e econômicas no Brasil devido à aprovação da Lei n.º 14.754 em 12 de dezembro de 2023. Esta lei estabeleceu novas regras sobre a tributação de aplicações em fundos de investimento e da renda obtida por pessoas físicas residentes no Brasil com aplicações financeiras, entidades controladas e trusts no exterior.

Para entender o que diz a lei e quais foram as mudanças provocadas por ela, é necessário saber o que são as famosas empresas offshore. Muitas vezes, essas empresas são relacionadas a atividades ilegais, como lavagem de dinheiro, devido à localização nos chamados “paraísos fiscais”. Porém, essa associação não é correta.

Por isso, nesse conteúdo, vamos esclarecer o que são as empresas offshores, conhecer seus tipos, onde se localizam, quais suas vantagens, entre outras informações relevantes. Confira!

O que é uma empresa offshore?

O termo “offshore” pode ser traduzido do inglês como “afastado da costa”. Assim, ele é utilizado tanto para designar empresas que exploram matérias-primas em alto-mar, como empresas de petróleo e gás, quanto organizações abertas fora do país de origem do proprietário.

Dessa forma, essa expressão se aplica a empresas, sociedades e contas bancárias abertas em territórios estrangeiros. Ou seja, o proprietário mora em um país, mas possui negócios em outros.

Esse tipo de empresa se diferencia das multinacionais, pois não possuem sede no país originário de seus sócios e não realizam nenhuma atividade por lá, sendo conhecidas como extraterritoriais. Geralmente, estão localizadas em países conhecidos como paraísos fiscais devido à baixa cobrança de impostos.

Sendo assim, os paraísos fiscais são utilizados por donos de empresas offshore visando a diminuição da carga tributária ou, até mesmo, a isenção fiscal. Além disso, esses locais possuem alto nível de proteção aos investidores, fazendo com que o sigilo sobre a identidade dos proprietários seja mantido. Por isso, muitas vezes, são associados às pessoas politicamente expostas e aparecem em denúncias envolvendo o recebimento de dinheiro ilícito.

Qual a diferença entre empresas offshore e paraíso fiscal?

Muitas vezes, empresas offshore são confundidas com “paraísos fiscais”. Isso se deve à localização desse tipo de atividade, mas é importante destacar que não são sinônimos.

Segundo o IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), “paraísos fiscais são Estados nacionais ou regiões autônomas que, por diferentes razões, possuem uma legislação favorável à movimentação e refúgio de capitais estrangeiros. Esses lugares oferecem baixas alíquotas tributárias, proteção sob o sigilo bancário e/ou composição societária e, em alguns casos, frágeis mecanismos de supervisão e de regulamentação das transações financeiras”.

Além disso, o Instituto esclarece que “a Secretaria da Receita Federal considera paraísos fiscais países ou dependências que tributam a renda com alíquota inferior a 20%. Também classifica como refúgios fiscais (tecnicamente, praças com tributação favorecida) os países cuja legislação permite manter em sigilo a composição societária das empresas (Instrução Normativa RFB n.º 1.037, de 4 de junho de 2010). Esse instrumento relaciona 65 países ou dependências com tributação favorecida, tais como Suíça, Mônaco, Hong Kong, Cingapura, Ilhas Cayman, Ilhas Virgens Americanas, Ilhas Virgens Britânicas, Panamá, Luxemburgo e Uruguai”.

Dessa forma, paraísos fiscais são lugares requisitados para as empresas offshore, devido a seus atrativos, como moedas fortes, estabilidade econômica e política, baixa carga tributária ou até isenção fiscal, liberdade de câmbio, entre outros. Esses locais visam atrair investidores e capital estrangeiro, e para isso permitem que não residentes abram contas bancárias e empresas sem burocracia.

Empresas offshore são negócios ilegais?

Não, é importante ressaltar que esse é um modelo empresarial legal. No Brasil, ter uma empresa offshore não representa nenhuma ilegalidade, desde que seja devidamente registrada no Banco Central e declarada à Receita Federal.

De acordo com a consultoria em investimentos, Aware Investiments, o patrimônio investido nas offshores deve ser declarado ao Banco Central do Brasil, anual ou trimestralmente, conforme a Declaração de Capitais Estrangeiros no Exterior (CBE). Os capitais devem ser declarados anualmente ao BC se os ativos totalizarem o valor igual ou superior a US$ 1 milhão (ou equivalente em outras moedas), e trimestralmente se os ativos totalizarem valor igual ou maior que US$ 100 milhões (ou equivalente em outras moedas).

Portanto, evitar o pagamento de impostos por meio de uma empresa offshore não é configurado crime de evasão fiscal. O que pode, porém, ser ilegal é o tipo de atividade relacionada a essa espécie de empresas. Sendo assim, a infração ocorre quando a instituição é utilizada para encobrir crimes, sobretudo crimes contra a ordem financeira, como sonegação fiscal, lavagem de dinheiro e ocultação de patrimônio.

Não é raro o uso de empresas offshore em paraísos fiscais para dificultar o rastreamento do dinheiro e ocultar a identidade dos verdadeiros proprietários dos ativos. Reportagem do jornal El País, por exemplo, mostrou que organizações criminosas brasileiras, políticos e até a máfia italiana já se utilizaram de empresas offshore para “lavar o dinheiro” proveniente de outros crimes, como corrupção ou tráfico de entorpecentes.

Leia também: Lavagem de dinheiro: entenda tudo sobre o assunto

Quais as vantagens de uma offshore?

Além de permitir pagar menos impostos que no país de origem sobre os rendimentos, uma offshore possui diversas vantagens, incluindo:

  • Planejamento fiscal: uma das principais vantagens é a minimização da carga tributária. Isso porque algumas jurisdições têm leis fiscais favoráveis que permitem que as empresas paguem menos impostos do que em seus países de origem;
  • Proteção de ativos: essas organizações também podem ser usadas para proteger ativos de litígios, falência e outras situações. As empresas offshore podem ser usadas para separar ativos comerciais de ativos pessoais, o que pode ser útil em caso de disputas legais ou financeiras;
  • Proteção patrimonial: uma offshore aumenta a proteção do patrimônio contra oscilações cambiais, já que está localizada em um país com moeda forte e contra instabilidades político-econômicas;
  • Confidencialidade: garantir a confidencialidade de informações financeiras e comerciais. Muitas jurisdições offshore oferecem privacidade e sigilo aos seus titulares, o que pode ser atraente para indivíduos que desejam manter suas finanças privadas;
  • Diversificação de investimentos: empresas offshore também podem ser utilizadas para diversificar investimentos, permitindo alcançar mercados estrangeiros, evitando assim possíveis flutuações cambiais.

Além disso, há diversos outros benefícios de abrir uma empresa offshore, como:

  • Isenção da obrigatoriedade de apresentar sua situação financeira;
  • Elevado nível de confidencialidade;
  • Pode ser representada e gerida por um terceiro;
  • Custos operacionais mais baixos;
  • Patrimônio em moeda forte e estável;
  • Liberdade de câmbio;
  • Acesso a créditos internacionais;
  • Utilização para planejamento sucessório;
  • Financiamentos mais baixos.

Tipos de empresa offshore

Existem dois tipos de empresas offshore, vamos conhecer um pouco de cada uma a seguir:

  • International Business Company (IBC): é uma empresa com diretores, acionistas e capital social em âmbito internacional. Geralmente, possui responsabilidade limitada, sem quaisquer obrigações. Sua estrutura empresarial é a mais utilizada no mundo offshore e se caracteriza por estar isenta de impostos, contabilidade e pelo anonimato de seus proprietários.
  • Limited Liability Company (LLC): são empresas com um enquadramento americano como sociedade limitada, em que as ações são repartidas, muito comum na aquisição de imóveis. Assim como uma sociedade limitada, as LLCs limitam a responsabilidade e são fiscalmente transparentes, ou seja, suas receitas são tratadas como se fossem diretamente aos proprietários, evitando assim impostos sobre dividendos e dupla tributação.

Quanto custa abrir uma empresa offshore?

O custo de abrir uma empresa offshore pode variar bastante. Esse cálculo depende de vários fatores, como o país e o tipo de organização escolhida. Geralmente, essas empresas são indicadas para investidores com alto giro da carteira de investimentos, visto que apresentam uma carga tributária reduzida e a proteção do patrimônio. 

Uma empresa de pequeno porte pode ter um custo entre US$ 2 mil a US$ 5 mil. Além desses, há também os custos de manutenção anual de, no mínimo, US$ 1 mil, de acordo com um artigo publicado no portal Estadão.

Veja a seguir os principais custos envolvidos no processo de abertura desse tipo de negócio:

Taxas de registro

Em geral, essa taxa é paga no momento da criação da empresa. Geralmente é composta por uma taxa fixa, que varia conforme a jurisdição. Pode incluir também um custo anual para manter a organização em situação regular.

Taxas de consultoria

Se você optar por contratar uma empresa de consultoria para ajudá-lo no processo de abertura, os honorários desses consultores serão adicionados aos valores.

Custos operacionais

Alguns dos principais custos operacionais incluem:

  • Honorários profissionais: as empresas offshore geralmente precisam contratar advogados, contadores e outros profissionais para ajudar com a manutenção do negócio. Atividades como preparação de relatórios financeiros, gerenciamento de riscos e outras questões legais e contábeis demandam profissionais especializados. Os honorários podem variar bastante, dependendo da jurisdição e dos serviços necessários;
  • Taxas administrativas: as organizações podem estar sujeitas a diversas taxas administrativas, incluindo taxas de registro, de licenciamento, de arquivamento de documentos, entre outras;
  • Custos de manutenção: é necessário contar com um agente registrado no local, um endereço comercial e outras despesas de manutenção, que podem incluir serviços de contabilidade e serviços jurídicos;
  • Custos de transações financeiras: empresas offshore que realizam atividades financeiras, como investimentos e negociações de câmbio, podem ter custos adicionais relacionados a transações, como taxas de transferência bancária, taxas de câmbio e taxas de custódia;
  • Impostos sobre lucros: por fim, as empresas estão sujeitas a impostos sobre os lucros obtidos em suas atividades comerciais, o que pode ser uma consideração importante na determinação dos custos finais.

Custos legais

Aassim como os demais encargos, os legais também irão depender da jurisdição onde a empresa será registrada e das atividades comerciais que serão realizadas por ela. 

Custos de tradução

Se os documentos precisam ser traduzidos para o idioma local, a empresa terá que arcar com os custos de tradução.

Custos de conformidade

O empreendedor também pode ter que investir em tecnologias e serviços de conformidade, como prevenção de lavagem de dinheiro e de financiamento ao terrorismo, que visam garantir que a empresa esteja em dia com as leis e regulamentações locais.

Como abrir uma empresa offshore

Com os custos e os tipos de uma empresa offshore em mente, é necessário saber qual procedimento adotar para a abertura desse tipo de negócio. O processo de abertura varia de acordo com a jurisdição escolhida. Segundo o BlockTrends, os quatro melhores países para se abrir uma offshore são:

  1. Belize: devido à possibilidade de constituir uma empresa com apenas U$ 500;
  2. Panamá: em razão de sua legislação favorável e da redução de custos com câmbio;
  3. Suíça: a maior vantagem do país é sua estabilidade política e monetária;
  4. Ilha Virgens Britânicas (BVI): opção para quem busca facilidade e custo baixo para abrir contas sem ter de ir ao local.

Para escolher o melhor local para sua empresa offshore, é preciso definir qual o objetivo da atividade, se ela irá servir, por exemplo, para guardar ativos financeiros, para operações comerciais internacionais ou administração de bens.

Após escolher o objetivo e o tipo do negócio, é fundamental contratar um agente registrado no local escolhido. Esse profissional será responsável pela entrega dos documentos e registro da empresa.

É possível fazer todo o processo sem sair do Brasil, pela internet e de forma rápida. Nas Ilhas Virgens Britânicas, por exemplo, o tempo de abertura de uma offshore pode girar em torno de 24 horas. No entanto, é preciso tomar algumas precauções, principalmente na escolha do agente.

O advogado tributarista e professor da FGV, Carlos Navarro, em reportagem do jornal Poder 360, estabeleceu 3 pontos que devem ser observados nessa escolha: quanto tempo está no mercado e reputação dentro da sua área de atuação; prazos que o agente pede para a realização de serviços; envolvimento em esquemas e escândalos envolvendo corrupção, lavagem de dinheiro ou outros crimes.

Qual a diferença entre empresas offshore e onshore?

Empresas onshore, diferentemente das offshore, estão “em terra”. Ou seja, os negócios estão localizados dentro do país de origem do seu proprietário. Dessa forma, as obrigações fiscais e jurídicas são regidas pelas normas internas do local.

As empresas onshore costumam ter os setores financeiro e fiscal bem desenvolvidos. Desde que cumpram a lei e os regulamentos do seu país, elas podem receber benefícios fiscais e políticos mais favoráveis aos interesses do negócio. 

Qual a tributação de uma offshore?

A tributação de uma empresa offshore pode variar significativamente, dependendo do país em que ela está registrada e das atividades comerciais que realiza.

Em muitos países, como as Ilhas Cayman, as Ilhas Virgens Britânicas e as Bahamas, por exemplo, as empresas são geralmente isentas de impostos sobre rendimentos e ganhos de capital. Esses locais geralmente têm leis fiscais favoráveis que atraem empresas estrangeiras para registrar suas operações lá, muitas vezes visando minimizar sua carga tributária.

No entanto, é importante observar que algumas jurisdições podem exigir que as empresas paguem outras taxas, como taxas anuais ou impostos sobre propriedade, ou valor agregado. Além disso, se a empresa offshore fizer negócios em outros países, poderá estar sujeita a tributação ao nível internacional, dependendo das leis fiscais dos mesmos.

Cabe ressaltar que a utilização de empresas offshore para fins de evasão fiscal é ilegal em muitas jurisdições e pode resultar em sérias penalidades e consequências legais. É importante buscar orientação profissional e agir de forma ética e legalmente responsável ao considerar a utilização de uma empresa offshore em sua estratégia tributária.

Tributação de uma offshore no Brasil

No Brasil, as empresas offshore são tributadas segundo a legislação fiscal brasileira. Se uma empresa offshore realizar atividades comerciais no Brasil, ela pode estar sujeita a impostos sobre os lucros obtidos no país, bem como a outros impostos, como impostos sobre importações, vendas e serviços.

A partir da entrada em vigor da Lei n.º 14.754/2023, as entidades, especialmente aquelas localizadas em paraísos fiscais ou com rendimentos próprios inferiores a 60%, estão sujeitas a uma alíquota de imposto de renda de 15%, independentemente de distribuição.

Além disso, o Brasil tem acordos de dupla tributação com alguns países, que visam evitar essa cobrança duplicada sobre renda e o patrimônio entre países. Isso significa que, se uma empresa offshore estiver registrada em um país com o qual o Brasil tenha um acordo de dupla tributação, poderá ser aplicada uma taxa reduzida de imposto sobre os lucros obtidos no Brasil.

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Bárbara Guido é mineira, advogada pela UFJF e estudante de Jornalismo na UFOP. Apaixonada por comunicação, atua como analista de governança corporativa e redatora de conteúdo jurídico e técnico para sites e blogs.