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O lado antissocial de um Compliance Officer

O lado antissocial de um Compliance Officer

Atualizado em 18 de janeiro de 23 | Geral  por

José Moreira da Silva

O papel do profissional de compliance é desafiador, disso nós já sabemos. Mas o que muitos não sabem é que esse papel pode também trazer consigo um pouco de “solidão”, necessidade de distanciamento de alguns eventos e até mesmo fazer com esse profissional pareça antissocial. 

A força da cultura ética e a eficácia do programa de compliance estão diretamente ligadas à credibilidade que se tem. E para que a credibilidade seja mantida, o time responsável pela gestão de compliance e ética tem que transmitir credibilidade, o tempo todo. 

É isso mesmo – “não basta ser honesto, é preciso parecer honesto”. 

Pois é, esse ditado pode se encaixar perfeitamente na vida de um profissional de compliance, principalmente quando ele for também o responsável pelo canal de denúncias na empresa. 

Além do compromisso de toda a alta liderança (Conselho de Administração, CEO e demais Diretores) é preciso que o time de compliance e o comitê de ética sejam vistos na empresa como área e órgão imparcial e livre de conflitos de interesse. Afinal, como diz o velho ditado, “o exemplo vem de cima”, 

Ao longo dos meus mais 15 anos de atuação nas áreas de Recursos Humanos, Ouvidoria e Compliance, trabalhando com indicadores de desempenho e dilemas ético, eu aprendi muito, mas a primeira lição aprendida foi que, todos os colaboradores, do estagiário ao presidente, precisam se comprometer com os valores da organização e com seu programa de integridade.

Seja em fazendo gestão, seja observando ou ajudando na prevenção e controle de más condutas ou até mesmo denunciando as violações ao código de ética ou quaisquer outras irregularidades que ocorrem no curso de qualquer atividade empresarial. 

Postura adequada e bons exemplos são fundamentais 

No entanto, esse comprometimento só acontece de forma plena e eficaz se a organização enxergar o compliance officer, seu time e o colegiado responsável pela gestão da ética (comitê de ética), com a mais estrita confiança e os vejam de forma imparcial. 

Por isso, não é incomum que estes profissionais sejam mais reservados no dia a dia da organização. E justifica-se, pois, a imagem destes profissionais e a forma como eles são percebidos dentro da organização interfere diretamente na credibilidade do programa de compliance. Assim, não se assuste se seu compliance officer não participa daqueles Happy Hours que as áreas organizam quando batem alguma meta ou alguma outra comemoração. 

Da mesma forma, é normal observar que estes profissionais muitas vezes priorizam socializar-se com suas equipes, seja na hora do almoço, nas pausas diárias para aquele cafezinho no meio da tarde ou até mesmo no intervalo daquele curso ou reunião. 

Sempre me recordo de uma frase bastante usada por um dos meus liderados – “A palavra convence, o exemplo arrasta”. Precisamos não só convencer os colaboradores, mas também arrastá-los para a via correta através da liderança pelo exemplo, alinhando a prática ao discurso.

Cultura é responsabilidade de todos 

A cultura corporativa consiste em crenças e atitudes compartilhadas, em especial da liderança, pois eles influenciam o comportamento dos demais colaboradores dentro do ambiente de trabalho. Cada organização possui sua cultura própria, e é isso que determina a maneira como os colaboradores interagem, como se comportam internamente, como falam e como tratam as partes com as quais a organização se relaciona. 

Os líderes são os responsáveis pela criação e manutenção da cultura, eles moldam a cultura com suas decisões, seus exemplos e até mesmo nos momentos de contratações. A contratação de indivíduos agressivos, por exemplo, tenderá a resultar em uma cultura que aceita ou incentiva esse comportamento. 

No entanto, não devemos esquecer que a cultura de uma empresa é responsabilidade de todos e formada pelo comportamento da organização como um todo. 

A cultura mais adequada é aquela que promove um conjunto de valores compartilhados, inclusive que permite uma conversa aberta e frequente sobre quais são esses valores, de modo que os colaboradores consigam, de forma relativamente fácil, determinar a coisa certa a fazer mesmo quando as leis ou regras estabelecidas pela empresa não fornecem respostas claras. 

Vida social e profissional andam juntas 

É inegável que a forma como você se comporta, em sua vida privada, fora da organização pode interferir diretamente na maneira como você é visto dentro dela. Por isso, é impossível dissociar uma coisa da outra. 

Desde a expansão da internet e a popularização das mídias sociais, a necessidade de se policiar é cada vez mais exigida. Pois, mesmo que você não associe o nome da empresa às suas redes sociais, não se apresente como representante ou porta-voz da empresa, você ainda assim estará indiretamente associado a ela. 

Neste contexto, as empresas foram obrigadas a criarem regras específicas, com orientações claras do comportamento esperado de seus colaboradores, sem parecer censura ou qualquer cerceamento à liberdade de expressão deles. Por outro lado, os colaboradores passaram a ter que se policiar mais, pois um post ou comentário inadequado pode prejudicar a imagem ou reputação da empresa ou de algum dos públicos dos quais a empresa se relacione. 

Quando se fala de um profissional mais sênior, seja ele um executivo ou não, o cuidado tem que ser dobrado, pois a probabilidade de associação e consequentemente trazer uma repercussão negativa para a imagem da empresa é infinitamente maior. 

Para os profissionais de compliance não é diferente, é bastante comum que estes profissionais limitem suas interações em redes sociais ou evitem aceitar convites de colaboradores da mesma organização das quais fazem parte. É uma forma de proteção e preservar a sua imagem perante a organização. 

As redes sociais são potencialmente perigosas do ponto de vista da exposição, mas não esqueça que o comportamento fora das redes também pode estar sendo observado por um olhar curioso, uma câmera de segurança ou por um celular discreto nas mãos de alguém, que mais tarde irá postar, por qualquer razão.

O equilíbrio adequado 

Por fim, é preciso encontrar o ponto de equilíbrio, pois a vida profissional não pode interferir na sua vida pessoal de forma negativa, isto é, com alguns cuidados é possível manter a sua privacidade e garantir o seu direito à liberdade de expressão, de opinião ou escolhas sem expor ou ser exposto. 

Quando seus princípios e valores são compatíveis com o da organização em que você atua e da sociedade, geralmente, a postura e o comportamento se tornam apenas um detalhe que nunca será notado, pois não altera a forma como você será visto.

Saiba mais sobre compliance

Você pôde observar que uma comunicação clara é essencial para que os colaboradores possam determinar a coisa certa a fazer, mesmo quando as leis ou regras estabelecidas pela empresa não fornecem respostas tão claras. Contudo, nem sempre a equipe se sente à vontade para compartilhar suas ideias ou até mesmo apontar alguma irregularidade que esteja acontece no ambiente corporativo.

A criação do espaço onde os colaboradores possam se sentir seguros para falar abertamente, sem a necessidade de recorrer somente ao canal de denúncias, por exemplo, é conhecido como cultura de speak up.

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José Moreira da Silva, graduado em Administração de Empresa, Executivo de Governança Corporativa, Compliance, DPO – Data Protection Office e Especialista em Canais de Denúncia e Investigações Corporativas.