Gestão da cadeia de suprimentos: boas práticas de compliance
Atualizado em 13 de agosto de 25 | Geral por
Fundamental para mitigar riscos legais e reputacionais, as práticas de compliance aplicadas à gestão da cadeia de suprimentos devem contar com processos claros e auditáveis. Dessa forma, a conformidade é capaz de exercer seu papel de zelar pela integridade das transações, proteger a empresa de contingências e sustentar a governança corporativa na cadeia de suprimentos.
Guia rápido de leitura💡| Aqui, você vai encontrar:
- O que significa compliance aplicado à gestão da cadeia de suprimentos?
- Boas práticas de compliance na cadeia de suprimentos
- Quais são os principais desafios do compliance na gestão da cadeia de suprimentos?
- Conclusão
De acordo com a 6ª edição da Pesquisa de Maturidade de Compliance no Brasil, conduzida pela KPMG, o nível de maturidade das organizações brasileiras subiu de 3,07 em 2021 para 3,09 em 2024, em uma escala de 1 a 5, atingindo o índice mais alto desde 2015 . Além disso, o compliance na gestão da cadeia de suprimentos é reconhecido como uma estratégia para agregar valor a longo prazo, à medida que mais empresas reconhecem a importância de práticas éticas e transparentes.
Segundo o Global Economic Crime Survey 2024 da PwC, 34% dos executivos consideram a avaliação de risco de trabalho forçado na cadeia de suprimentos como uma prioridade estratégica, demonstrando a crescente atenção corporativa a essa ameaça.
Nesse contexto, a adoção de políticas de compliance é um instrumento fundamental para minimizar riscos de fraudes e irregularidades, além de aprimorar a gestão da relação com fornecedores e promover mais eficiência em todo o setor.
Atualmente, a fraude é um dos principais desafios contemporâneos, pois compromete a confiança entre credores e devedores, afetando diretamente a segurança das transações comerciais e a estabilidade do sistema financeiro. A recorrência dessas práticas gera instabilidade no mercado, eleva os riscos para todas as partes envolvidas e restringe o acesso ao crédito, impactando negativamente a economia como um todo. Segundo dados do Valor Econômico, para cada R$ 1,00 perdido em fraudes no Brasil, as instituições financeiras arcam com um custo de R$ 4,49.
Os dados acima evidenciam a crescente importância do compliance em suprimentos para o fortalecimento da governança corporativa. De fato, a implementação eficaz de políticas de compliance é indispensável para mitigar riscos legais e reputacionais, além de contribuir para a construção de uma imagem corporativa sólida.
O que significa compliance aplicado à gestão da cadeia de suprimentos?
O compliance em suprimentos consiste em estabelecer controles rigorosos para que as operações de aquisição observem integralmente as exigências legais e políticas internas da empresa. Isso envolve a verificação sistemática da idoneidade dos fornecedores, o monitoramento das condições contratuais e a prevenção de riscos associados a fraudes, irregularidades ou práticas inadequadas.
Logo, é preciso contar com processos claros e auditáveis para que o compliance exerça seu papel de zelar pela integridade das transações, proteger a empresa de contingências e sustentar a governança corporativa na cadeia de suprimentos.
Na prática, compliance em suprimentos é checar se o fornecedor tem CNPJ ativo, se tem certidões negativas atualizadas, se não responde por processos trabalhistas graves, se cumpre normas ambientais e entrega o que promete, no prazo e com nota fiscal.
Além disso, é preciso também seguir um processo de compras com critérios claros, contrato assinado, análise de risco e rastreabilidade de cada etapa. Isso evita problemas como “fornecedor laranja”, superfaturamento, pagamento sem entrega e contrato travado por irregularidade, ou seja, é um controle cotidiano para que a empresa realize suas compras da forma correta, com segurança jurídica.
Vale destacar que a ausência de controles de compliance na área de suprimentos expõe a empresa a riscos concretos. Por exemplo, um fornecedor com certidão vencida pode inviabilizar a habilitação em processos licitatórios, comprometendo contratos estratégicos. A suspensão do CNPJ durante a execução paralisa entregas e impacta diretamente o cumprimento de prazos e obrigações contratuais. Quando há passivo ambiental não identificado previamente, a empresa contratante pode ser corresponsabilizada e autuada, com reflexo financeiro e reputacional. Caso haja pagamentos realizados sem documentação fiscal adequada, isso dificulta a conciliação contábil e gera inconsistência nas auditorias.
Por outro lado, a contratação de fornecedores com pendências trabalhistas expõe a organização à responsabilização solidária por débitos que não originaram internamente, mas recaem sobre ela por ausência de diligência prévia. Assim, todos esses riscos operacionais e jurídicos, quando não controlados, afetam a previsibilidade, a governança e a sustentabilidade da cadeia de suprimentos.
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Boas práticas de compliance na cadeia de suprimentos
A adoção de práticas sistematizadas de compliance na gestão da cadeia de suprimentos é indispensável para que haja integridade nas operações. As principais medidas são:
1. Verificação documental detalhada e atualizada
Essa prática consiste na análise de documentos imprescindíveis como certidões negativas, informações trabalhistas, previdenciárias e fiscais, além do envolvimento em processos administrativos e judiciais. A automação desses processos, via sistemas de compliance digital, reduz erros e acelera decisões.
2. Estruturação contratual com cláusulas específicas de compliance e ESG
Os contratos devem prever obrigações claras relacionadas à conformidade legal, práticas anticorrupção, responsabilidade socioambiental e mecanismos para auditoria e penalidades em caso de descumprimento.
3. Integração multidisciplinar no processo de compras
Envolver áreas jurídicas, fiscais e de compliance desde o planejamento até a execução assegura que riscos sejam avaliados sob múltiplas perspectivas, prevenindo vulnerabilidades que impactem custos e prazos.
4. Due Diligence periódica
O acompanhamento sistemático permite identificar alterações no perfil do fornecedor (como processos judiciais novos ou suspensão cadastral) que possam afetar a continuidade do fornecimento.
5. Controle cruzado de entregas, pagamentos e documentação fiscal
Aqui, a boa prática consiste na adoção de sistemas integrados para rastreabilidade e conformidade, evitando fraudes como notas fiscais frias ou pagamentos indevidos.
Quais são os principais desafios do compliance na gestão da cadeia de suprimentos?
Para aproveitar os benefícios do compliance e evitar os prejuízos decorrentes da não conformidade, é fundamental entender os obstáculos que dificultam sua implementação eficaz.
Entre os principais desafios, podemos citar:
- A complexidade das regulamentações e a diversidade de requisitos legais aplicáveis;
- A necessidade de monitoramento para assegurar o cumprimento dessas normas;
- A agilidade exigida para acompanhar mudanças regulatórias e adaptar processos;
- A garantia de conformidade em todos os elos da cadeia, desde fornecedores até distribuidores;
- O gerenciamento dos riscos relacionados a parceiros que não atendem aos padrões de compliance.
Nesse cenário, um exemplo de desafio está na contratação de fornecedores que não seguem práticas éticas e legais. De fato, contar com um fornecedor ligado a práticas graves, como trabalho escravo, compromete de forma profunda tanto a imagem, quanto a continuidade operacional da empresa.
Para mitigar esses riscos, é imprescindível adotar um processo rigoroso de homologação, que inclua Due Diligence aprofundada na fase de seleção e monitoramento constante do desempenho e da conformidade do fornecedor durante toda a relação comercial.
Conclusão
A adoção rigorosa de políticas de compliance na gestão da cadeia de suprimentos fortalece os controles internos, reduz riscos financeiros e jurídicos e aprimora a governança corporativa.
Nesse cenário, a eficácia dessas políticas depende da integração entre áreas jurídicas, financeiras e operacionais, além do monitoramento constante e da atualização constante dos critérios de avaliação dos parceiros. Isso transforma a relação comercial em uma rede de responsabilidade compartilhada, em que o risco é mensurado e controlado de forma integrada.
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