Capitalismo de stakeholders: o que significa esse conceito?
Atualizado em 15 de fevereiro de 24 | Geral por
Em 2020, o Fórum Econômico Mundial atualizou seu manifesto e reforçou a importância das empresas abraçarem o capitalismo de stakeholders. Em tempos em que a sociedade e o mercado cobram das organizações atitudes mais inclusivas e sustentáveis, é fundamental conhecer esse conceito.
Neste artigo, vamos esclarecer o que significa o termo capitalismo de stakeholders. Acompanhe!
O que é capitalismo?
Em linhas gerais, o capitalismo é um sistema econômico baseado na geração de lucro, acumulação de riquezas e na defesa da propriedade privada. Sua origem remonta a Idade Média, com o fim do feudalismo e início do processo de industrialização e globalização.
Esse sistema predomina mundialmente e dita as regras econômicas, políticas e sociais da maioria dos países. Inicialmente, o capitalismo pode ser dividido em comercial, industrial e financeiro.
Nos dias de hoje, porém, há outras divisões relevantes para o contexto empresarial e financeiro, como o capitalismo de acionistas (ou capitalismo de shareholders), que visa apenas o lucro de sócios e acionistas; e o capitalismo de estado, em que o Estado controla e define os rumos da economia.
O que significa capitalismo de stakeholders?
Este conceito está ganhando espaço no meio financeiro, mas ainda é pouco conhecido e pode ser uma surpresa para muitos. Essa expressão foi cunhada por Klaus Schwab, fundador do Fórum Econômico Mundial.
Segundo ele, o “capitalismo de stakeholders é uma forma de capitalismo em que as empresas buscam criar valor a longo prazo, levando em consideração as necessidades de todas as partes interessadas e da sociedade em geral”. A mudança de perspectiva gerada pelo capitalismo de stakeholders está relacionada à crise climática atual e à globalização.
O capitalismo de stakeholders, portanto, volta suas atenções para o aspecto social e ambiental. Neste modelo, as empresas possuem papel central e devem atender aos interesses de toda a sociedade e não simplesmente de seus acionistas.
Em agosto de 2019, o Business Roundtable, grupo de CEOs das principais empresas norte-americanas, incluindo gigantes globais como Apple, Walmart, Pepsi e BlackRock, divulgou uma declaração na qual se compromete a agregar valor para todos os stakeholders, como clientes, trabalhadores, fornecedores e comunidades onde atuam.
Quais são as partes interessadas?
Como o próprio nome diz, o capitalismo de stakeholders é o capitalismo das partes interessadas. Por isso é importante sabermos quais são elas. De acordo com o Manifesto de Davos (WEF, 2020), realizado pelo Fórum Econômico Mundial, as partes interessadas são:
- Governos (de países, estados e comunidades locais): possuem a missão de criar a maior prosperidade possível para o maior número de pessoas;
- Sociedade civil: desde de sindicatos a ONGs, incluindo escolas e universidades, é responsável por promover o interesse social e dar propósito a seus membros;
- Empresas privadas: desde startups à multinacionais, as empresas devem se preocupar não apenas com o retorno aos acionistas, mas também em atingir objetivos ambientais, sociais e adotar boas práticas de governança;
- Comunidade internacional: composta por organizações internacionais, como a ONU, Mercosul e União Europeia, devem buscar preservar a paz em seus países membros.
Pilares do capitalismo de stakeholders
Em 2020, no encontro anual do Fórum Econômico Mundial, realizado em Davos, na Suíça, os CEOs das 120 maiores empresas mundiais lançaram o relatório chamado de “Measuring Stakeholder Capitalism”, ou seja, as métricas do capitalismo de partes interessadas.
Este documento sugere 55 métricas que devem ser observadas pelas empresas na busca pelo desenvolvimento de sociedades mais prósperas e sustentáveis. As métricas possuem o objetivo de padronizar a forma como as organizações medem seus indicadores ambientais, sociais e de governança, o famoso ESG.
As métricas foram divididas em quatro pilares, alinhadas com os princípios do ESG e os elementos essenciais dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), definidos pela ONU.
De acordo com o relatório, os 4 pilares são:
Governança
Esse pilar é fundamental para todas as empresas atualmente. A empresa deve prezar por boas práticas de governança, medidas e procedimentos que garantam comportamento ético, supervisão de riscos e oportunidades, qualidade da alta administração, engajamento dos colaboradores e detecção e prevenção de fraudes.
Saiba mais sobre o tema em nosso artigo: GRC (governança, risco e compliance): o que é e como colocar em prática?
Planeta
Neste pilar, considera-se o impacto causado pelas empresas ao meio ambiente. Por isso, elas devem se preocupar em minimizar e reparar danos causados à natureza, como mudanças climáticas, destruição da biodiversidade, poluição das águas e do ar, entre outros.
Pessoas
Uma empresa não existe sem as pessoas que a compõe. Por isso, este pilar inclui trabalhadores, clientes, fornecedores, distribuidores, varejistas, empreiteiros, investidores, dentre outros.
As organizações devem se preocupar e desenvolver ações prezando a dignidade, a saúde e bem-estar dessas partes interessadas. Bem como, precisam garantir a diversidade e equidade no ambiente de trabalho.
Prosperidade
O relatório reconhece a prosperidade como um elemento essencial para a concretização dos ODS. Define esse pilar como “o crescimento de um ambiente forte, inclusivo e de economia transformadora”. Além disso, associa a prosperidade à dignidade e à luta pela acabar com a pobreza e a desigualdade.
Cada um desses pilares têm uma influência importante sobre a capacidade de uma empresa gerar recursos compartilhados e valor sustentável. Os quatro pilares e as métricas devem ser colocados em prática e analisados de forma conjunta.
Conclusão
O capitalismo de stakeholders incentiva as empresas a repensarem suas estratégias de negócios, levando em consideração os impactos que estão relacionados às suas atividades e ao ambiente onde estão inseridos.
A sociedade está cada vez mais exigente em relação à atuação de empresas privadas. Portanto, àquelas que não adotam estratégias com foco em melhorar o bem estar das pessoas e comunidades com as quais interage poderão, a longo prazo, perder oportunidades de negócios.
Como mostramos no artigo, o capitalismo de stakeholders está diretamente relacionado aos princípios de ESG. Por isso, que tal se aprofundar ainda mais neste assunto?
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Bárbara Guido é mineira, advogada pela UFJF e estudante de Jornalismo na UFOP. Apaixonada por comunicação, atua como analista de governança corporativa e redatora de conteúdo jurídico e técnico para sites e blogs.